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Resumo. biella, jaime. DFIL – UFRN. Uma das perguntas mais relevantes para o debate contemporâneo em várias áreas (Filosofia, Psicanálise, Política, entre outras) é “como enfrentar e superar a cultura binária”, ou, dito de outro modo, “como romper com as imposições de uma cultura heteronormativa”. Este é um debate no qual se entrecruzam quatro temas: poder x biopolítica x gênero x sexualidade. Uma das dificuldades a ser superada é a da separação entre esses temas, ou seja, é imperioso conseguir pensar o entrelaçamento entre os quatro temas. Uma dessas dificuldade se mostra quando alguns segmentos sociais (obviamente sustentados por concepções teóricas) isolam o termo gênero, gerando propostas de sociedades não-binárias que na verdade deveriam ser denominadas de sociedades multi binárias. Dois exemplos ilustram essa afirmação: a prefeitura de Nova York (EUA) reconhece atualmente a existência de mais de trinta gêneros, e o Facebook, na Argentina, admite que seus usuários se enquadrem em mais de cinquenta diferentes gêneros. Algumas teóricas têm enveredado por outros caminhos na busca pela superação da heteronormatividade. A filósofa espanhola (atualmente residente na França) Paul Beatriz Preciado denominou de sexopolítica a forma dominante da ação biopolítica emergente do capitalismo disciplinar (na expressão de M. Foucault). Para Preciado, o corpo é a estrutura biomolecular e orgânica dos sistemas de controle, portanto, é preciso reconceituar o corpo enquanto instância política. Segundo ela, não há mais uma base natural (“mulher”, “gay” etc.) que possa legitimar a ação política. Em oposição a isto, a filósofa enxerga “uma multidão de corpos” performando ações políticas. Esta definição da ação política vem, na esteira da concepção apresentada pela filósofa sobre gênero, uma vez que para ela o gênero deve ser entendido não como uma essência ou uma verdade psicológica, mas como uma prática discursiva e corporal performativa. Em meu entendimento, é possível reconhecer na pensadora francesa Monique Wittig uma precursora da ideia de sexopolítica desenvolvida por Preciado. Wittig (1935-2003) se autointitulava uma feminista radical, mas ela se tornou mais conhecida por suas elaborações teóricas de um ativismo lesbiano. É nesse contexto que podemos entender sua famosa frase que afirma que “as lésbicas não são mulheres”, uma vez que ela considera que ser lésbica é algo além das relações afetivossexuais entre mulheres. Para esta feminista lésbica, se autodenominar lésbica não é apenas afirmar a existência do amor entre mulheres, mas é reconhecer que além do amor entre mulheres, o que se afirma na auto definição da lésbica é a posição política que a lésbica assumi enquanto mulher que se autonomeia lésbica. A importância política disto está no fato de que em uma sociedade onde as mulheres são subalternizadas e onde as mulheres só têm valor através do vínculo com um homem, se colocar de fora desses vínculos é, em si, um ato político fundamental. Reconhecer-se como lésbica é, portanto, fazer uma transgressão poderosa dos processos de dominação. Radicalizando este posicionamento, Wittig argumenta que o lesbianismo é diferente das práticas gays, pois carrega um potencial de transgressão das normas da sociedade heterocentrada, heteronormativa e patriarcal. Isto se dá porque dois homens juntos continuam se beneficiando dos privilégios da masculinidade hegemônica, justamente o que é contestado pela relação erótico-afetiva entre duas mulheres. Na conversa que terei com os participantes de mais uma edição do projeto Mora na Filosofia, espero poder apresentar as contribuições tanto de Wittig quanto de Preciado para a superação de uma sociedade marcada pela exploração do humano por outros humanos (geralmente o humano adulto, macho, hetero, branco e imperialista).
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